O G-7, grupo de empreiteiros e secretários de estado acusado pela Polícia Federal de fraudar licitações e desviar R$ 4 milhões do programa Ruas do Povo, tinha como alvo cartelizar os processos de licitação das obras da Cidade do Povo, o maior programa habitacional do governo do Acre. A Polícia Federal ainda investiga o caso, mas a justiça já determinou a prisão de 15 no Acre.
O mega-conjunto habitacional com mais de 10 mil unidades, localizado na BR-364, KM-05, sentido Rio Branco/Porto Velho, será construído com recursos federais do Minha Casa, Minha Vida, no valor de 1,1 bilhão.
A ordem de serviços das obras foi assinada no dia 18 de março pelo governador Sebastião Viana, com honrarias para o já famoso G-7. Os empresários envolvidos na suposta máfia posaram para as câmeras, perfilados em frente ao palanque das autoridades. E foi o secretário de obras, Wolvenar Camargo, preso entre os 15, na sexta-feira passada pela Polícia Federal, o responsável na solenidade por explicar detalhes da Cidade do Povo. Com autoridade de coordenador, Wolvenar teria poderes de abrir e fechar as portas para empresas nos processos de licitação do mega-empreendimento.
Treze empreiteiras são responsáveis por construir a primeira fase da obra, que compreende 3.348 unidades. Entre os empresários estão os integrantes do chamado G-7. Eles, segundo relatório da Policia Federal, pretendiam incluir mais duas empresas no esquema do cartel e se tornar o G-9.
As investigações realizadas pela Polícia Federal, desde 2011, também comprovaram que as empresas Engecal, Eleacre e Albuquerque Engenharia pretendiam lucrar R$ 600 mil, com a diminuição de meio metro quadrado nas casas da Cidade do Povo. A denúncia foi veiculada neste domingo em reportagem de ac24horas.
O modelo de fraude seria semelhante ao do Ruas do Povo: o dinheiro é liberado para construir o acesso, mas a obra não sai do papel. No caso das unidades, o valor seria pago, mas as casas não seriam construídas como pede o projeto original.
ac24horas, também denunciou dois meses antes da assinatura do contrato para a construção das casas da Cidade do Povo a ligação suspeita entre o governo do Acre com o grupo de empresas que havia vencido a licitação.
A reportagem do 11 de janeiro deste ano, intitulada “A Panelinha de Sebastião , mostrou que as empresas que vão construir o mega-empreendimento são as mesas que financiam as campanhas para governador e prefeito do PT, partido que governa o Acre há 14 anos.
Coincidência ou não, a nota informativa divulgando os vencedores da licitação é assinada pelo então secretário de habitação, Aurélio Cruz, que está entre os presos pela Polícia Federal.
Algumas das empresas que foram desclassificadas, naquele processo licitatório, informado no dia 07 de janeiro, foram incluídas numa segunda chamada. É o caso da Eleacre, de João Salomão, e da Construterra, da família de Carlos Sasay. Os dois também foram presos pela PF. Salomão é ex-presidente da Fieac e Sasay atual presidente da Federação das Indústrias do Acre.
Atraídos pela gula
Na chamada 5126167 do processo de investigação da Polícia Federal, o empresário Vladimir Tomás conversa com João Braga (empresa Albuquerque) e fica sabendo que o alvo (GRAVAÇÕES AUTORIZADA) Salomão havia se habilitado para uma quadra, contrariando o que haviam acordado, e que Carlão (Carlos Sasai) faria uma reunião para conversarem sobre este assunto.
O áudio da conversa telefônica interceptada pela PF trata da construção da casas populares na Cidade do Povo que serão executadas em conluio (expressão usada pela PF) pelas empresas.
A reunião citada nas chamadas acima ocorreu no dia 03 de janeiro deste ano, e pelo diálogo contou com a participação de Carlos Sasai, Jorge Wanderlau Tomás, Nilton, Keite e Salomão, conforme se pode perceber através das chamadas. “Inclusive no índice 5128941 o alvo Vladimir diz que não pode atender o telefone por estar na reunião, cujo tema tratou do Cidade do Povo, diz o relatório da Policia Federal encaminhado à justiça.
TRANSCRIÇÃO:
VLADIMIR: Alô
JOÃO: Alô
VLADIMIR: Oi João .. tudo bem?
JOÃO: Fala mano Vladimir..
VLADIMIR: Como foi de entrada de ano?
JOÃO: Rapaz..eu virei rei fiquei legal…né.. passei os últimos três dias no trono cara….peguei essa infecção.. virose estomacal..meu amigo fiquei mal três dias..
VLADIMIR: gastrointerite-viral..
JOÃO: Negócio desse..essa “porra aí mesmo”..
VLADIMIR: Meu filho teve um princípio também disso..
JOÃO: Meu amigo eu demoli.. afinei rapidinho..48 horas eu já estava show de bola..rs..
VLADIMIR: O ruim é que você está com a saúde sempre em dia né..
JOÃO: Eu tinha tudo programado..uma série de coisa e tal.. é assim mesmo…não reclamo de nada não..Deus sabe o que faz.. o que importa é que já estou legal já.. já estou trabalhando.. já estou na guerra.. Já fui lá a tarde. Já assinei os nossos negócios lá.
VLADIMIR: É, então, teve uma reunião lá hoje. Foi chamado todo mundo ou só alguns?
JOÃO BRAGA: Na verdade não foi reunião não. Era só pra gente assiná lá as coisas mesmo
VLADIMIR: A ata
JOÃO BRAGA: Era a ata só
VLADIMIR: E aí, qual o próximo passo?
JOÃO BRAGA: Não e, agora a gente foi aprovado né… tal… que essa ata lá é aquela ata de aprovação e quem, quem foi aprovado e tal. Aí ficou assim, eu até estranhei né, mas tudo bem, pra mim tá valendo. Porque o SALOMÃO findou se habilitando, não sei se através do Banco do Brasil e tal. ele se habilitô em uma quadra.
VLADIMIR: Em uma quadra?
JOÃO BRAGA: Em uma quadra. Aí a nossa ficou a… sim, mas se bem que vai ficá tudo junto
né. Tem que vê como é que vai sê isso né.
VLADIMIR: É, as vezes ele testou lá, e testou pelo Banco do Brasil.
JOÃO BRAGA: Eu não sei cumé, eu não perguntei dele como foi que ele fez não, porque não era isso que tava acordado né, mas…
VLADIMIR: Exatamente, tem que vê também. As vezes ele só fez pra testar, se ele vai querer. Tem que ver isso também. Tem que sentá pra defini isso amanhã né.
JOÃO BRAGA: Pois é, então, e amanhã, nos vamo tê, acho que vamo comunica uma reunião… é 4 hora da tarde. O CARLÃO (Carlos Sasai) parece que vai convocá isso aí.
VLADIMIR: E aí nos vamo sentá pra conversar isso… porque eu também não tava sabendo… se daí então for conversá com o SALOMÃO… isso quando aí a gente conversa?
JOÃO BRAGA: Pois é, eu não conversei nada né e… com ele a respeito disso né. Como é que vai sê, que ele se habilitou. Pra mim foi uma surpresa lá, fiquei surpreendido, porque a programação não era essa.
VLADIMIR: Exatamente, até as coisas que eu aprontei eu passei inclusive tudo pro MANOEL
na sexta feira, pra terminar, o JEACOME tá lá terminando, o pessoal da Eleacre tá lá
terminando o planejamento das planta. Eu até to fazendo um cronograma de infra pra entregar pra eles tudo.
JOÃO BRAGA: No meu entendimento, vai permanecer tudo junto. Agora, como junto? que vai receber um dinheiro por lá, e outro por aqui, eu não sei. E aí eu não sei como é que vai ser agora. Tem que sentá e conversá realmente.
VLADIMIR: E tem que sentá logo né, porque tem que correr com os trabalho né. Agora tem que entregar essas coisas tudo, né.
JOÃO BRAGA: É tem que entregá tudo, entregá tudo. A gente agora tem que corre com isso que é pra entregá tudo né.
VLADIMIR: Então vamo vê. Se não tivé reunião com a turma, vamo fazê uma reunião a gente já, amanhã, então.
JOÃO BRAGA: É, mas deve ter essa reunião sim, o CARLOS SASAI qué… diz que ia convocá porque o Adriano está viajando.
VLADIMIR: É, depois da do CARLOS a gente pode sentá pra conversá, amanhã… já vai todo mundo pra lá, a gente senta e bate um papo lá amanhã né.
JOÃO BRAGA: É pode ser. Ou durante o dia a gente vê como se faz..bora vê..
VLADIMIR: A gente se fala amanhã de manhã então..
JOÃO BRAGA: Tá bem..
VLADIMIR: ..(inaudível)…fui pego de surpresa.. agora.. vamos ver também.. vamos ver qual a intenção dele então amanhã..um abraço..
JOÃO BRAGA: Outro..
VLADIMIR: Tchau.. tchau..
Veja a lista dos presos:
Carlos Sasai – Empresário, presidente da Federação das Industrias do Estado do Acre
João Francisco Salomão – Empresário, ex-presidente da Federação das Industrias do Estado do Acre
Carlos Afonso Cipriano – Empresário da Construção Civil
Assurbanipal Mesquita – Diretor de Desenvolvimento Urbano da prefeitura de Rio Branco
Jose Adriano – Empresário, proprietário da Mav Construções
Marcelo Chance de Nees – Servidor público
Sergio Nakamura – Ex-diretor do Deracre e empresário da construção Civil
Vladimir Câmara Thomas – Empresário da construção civil
Gildo Cesar Rocha – Diretor do Depasa, amigo pessoa do governador Sebastião Viana
Wolvenar Camargo – Secretário de Obras do Estado
Aurélio Cruz – Ex-secretário de Habitação do Acre
João Braga filho – Empresário
Narciso Mendes Filho – Empresário da construção civil
Tshuyoshi Murata – Empresário da Construção civil
Thiago Paiva – Diretor de Analise Clínicas da Secretaria Estadual de Saúde
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