quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Parentes de vítimas do Tauari pedem socorro

Com pouco mais de três meses residindo em Rio Branco, familiares de José Lima de França (Zequinha), uma das vítimas do caso que ficou conhecido como “Monstros do Tauari”, ocorrido no ano de 1998, no município de Tarauacá, estão sofrendo com as dificuldades de adaptação à zona urbana e a falta de recursos para se levar uma vida digna.

Dois casais e três crianças dividem um casebre construído no fundo da residência de Maria das Dores França, no bairro Belo Jardim II, no Segundo Distrito da capital. Ela é a filha mais nova de Zequinha, que viu seu pai ser assassinado durante um ato macabro liderado pelo casal Doca e Totó. A dupla alegava estar ungida por Deus e que necessitava acabar com o pecado naquela comunidade.  Muitos foram adeptos a ideia e os que não aceitaram foram espancados ou assassinados. O resultado do massacre foi seis pessoas mortas, entre as quais três crianças vitimadas pelos próprios pais.

Maria das Dores tinha 4 anos à época do trágico acontecimento que, como ela afirma, mudou sua vida para sempre. Pouco tempo da perda do pai ela seguiu para a Capital do Estado, onde mora desde então.

“Assim que mataram meu pai vim para Rio Branco. É uma coisa que nunca vamos esquecer. Vi matarem meu pai e não pude fazer nada para evitar. É muito difícil. Foi muito triste ver pela reportagem na televisão a ossada dele, que reconhecemos por causa da calça que ele tinha”, afirmou com os olhos marejados.

Instalada na cidade há mais tempo, Maria das Dores está abrigando a família da irmã mais velha, Maria Sirleide, e da cunha desta, Maria da Glória, prestando a assistência que lhe está ao alcance. No local, além dos adultos estão cinco crianças.

“Como não se tem quase nada aqui na casinha, três adultos estão dormindo no chão, num edredom emprestado pela Maria das Dores, um dorme na rede e as crianças dividem a cama box”, comentou Maria da Glória.

O problema é que com o passar do tempo e sem nenhum tipo de auxílio que garanta segurança de moradia e de estabilidade financeira, a situação está ficando bem difícil para as três famílias.

“Precisamos de moradia. O esposo da Maria das Dores construiu essa casinha, mas é algo provisório. Ele precisou parar a construção da sua casa para nos ajudar. Nossos maridos estão correndo atrás. Um já conseguiu trabalho e o outro está tirando os documentos para começar a trabalhar, mas ainda não temos renda nenhuma por isso estamos solicitando ajuda no que for possível”, declarou Maria Sirleide.

Expulsas pelos índios em Tarauacá

As famílias chegaram a Rio Branco juntas, vindas de ônibus de Tarauacá. Elas garantem que não pensam em retornar às terras de onde saíram e não perdem a esperança de um futuro bem diferente do período vivido até hoje.

“Fomos expulsos pelos índios, que estavam descendo para as terras, envenenaram as águas. Estava impossível viver lá. Temos em mente que a partir de agora nossa vida será de mudança para melhor. Estamos confiantes, esperamos obter uma moradia digna, oportunidade para trabalhar e podermos viver com nossos filhos em paz”, disse Maria da Glória.

Para quem deseja disponibilizar algum tipo de auxílio àquelas famílias o telefone para contato é 9203-6958 (Antônio José Barbosa da Silva).

Seds faz relatório sobre a situação

O setor de habitação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social informou que foi realizada visita ao local onde estão abrigadas as famílias vindas do Tauari e um relatório será elaborado sobre as condições em que estão vivendo aqueles seres humanos.

De acordo com as informações cedidas por aquele setor da Seds, foram realizadas entrevistas e registradas imagens através de fotografias para embasar a produção do relatório, que será encaminhado a coordenação daquele órgão para a definição dos encaminhamentos necessários.

DESCONHECEM

As duas filhas de Zequinha afirmaram desconhecer os trabalhos produzidos pelo deputado estadual Moisés Diniz (PCdoB) e pelo defensor público Valdir Perazzo, que abordam o trágico acontecimento do ano de 1998 na região do Rio Tauari. 

Segundo elas, que dizem ‘saberem ler alguma coisa’, os autores dos livros nunca as procurou para falar sobre o assunto. No entanto, elas não descartam o encontro e mostram interesse em conhecer as obras.

“Não ficamos sabendo sobre esses livros. Mas se nos procurarem podemos conhecer, sem problemas”, afirmou Maria das Dores.

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