segunda-feira, 10 de junho de 2013

Violência em Tarauacá envolve principalmente adolescentes

Batalhão PM Tarauacá (Foto: Duaine Rodrigues/G1)

Na cidade de Tarauacá, situada no interior do Acre, a cerca de 453 km da capital do estado, Rio Branco, a falta de opções para a prática de atividades de lazer e cultura é observada como o principal fator para o envolvimento de jovens adolescentes com a criminalidade. Em 2013, dos quatro homicídios registrados no município, três foram praticados por adolescentes.

A situação é observada com cautela pelas autoridades de segurança, que demonstram preocupação com o futuro da população jovem. Para o comandante da Polícia Militar da cidade, major Luiz Gonzaga, por exemplo, a desordem social que existe com relação as famílias é o maior motivador para a prática de atos infracionais pelos jovens. Além disso, ele destaca a questão cultural.

"O problema é a estrutura da cidade. Faltam opções de lazer e cultura. O povo gosta de usar arma branca na cintura. No bairro da Praia, que era o grande gargalo, começamos a colocar policiamento 24 horas. Não tivemos nenhum homicídio naquela comunidade, mas tivemos em locais onde não havia histórico de violência", comenta.

Segundo o major, atualmente 66 policiais militares atuam no município, uma média de um para cada 200 habitantes. Para ele, apesar do alto índice de participação de jovens em práticas criminosas, a criminalidade está sendo controlada aos poucos.

"Através de ações de repressões tentamos controlar a criminalidade. A violência abrange não só homicídio, que é o principal indicador, mas tentativa de homicídio, ameaça, arrombamento, furto. Tarauacá está dentro de uma tranquilidade", avalia Luiz Gonzaga.

Questionado se a prática de tráfico de drogas é comum na cidade, major Gonzaga ressalta que a maior parte das apreensões realizadas tem como produto apreendido o oxidado de cocaína.

"O tráfico sempre vai existir porque estamos em uma área de fronteira. Esse ano apreendemos cerca de 10 kg de entorpecentes. Temos uma relação muito boa com outros órgãos de segurança para combater o tráfico", comenta.

Segundo ele, desde o mês de novembro do ano passado, Polícia Militar, Polícia Civil, Poder Judiciário e Ministério Público Estadual começaram a fazer grandes operações para combater o tráfico de entorpecentes e os receptadores de furto.

"Através dessas ações começamos a colher frutos. Tivemos 100 dias sem registrar nenhum caso grave na cidade. Há essa continuidade e a preocupação da PM e da Polícia Civil em controlar o foco da criminalidade", destaca Luiz Gonzaga.

Promotor Rolim Tarauacá (Foto: Duaine Rodrigues/G1)

'Índices socioeconômicos são ruins', diz promotor
O promotor de Justiça da Comarca de Tarauacá, Luis Henrique Correia Rolim, está há quatro meses no município, mas já conseguiu fazer um diagnóstico da situação da segurança. Assim como o major da PM, o promotor ressalta que a cidade não oferece muitas opções para os adolescentes, para os jovens.

"O grande problema é que os índices socioeconômicos são ruins. Durante um bom tempo a cidade não teve os investimentos que deveriam ter sido aplicados na área esportiva, cultural, não há oportunidades econômicas de trabalho. Agora que estamos começando a ver alguma coisa sendo feita. Combinado com outro fator, que é a possibilidade da estrada (BR-364) promover a ligação com Rio Branco e Cruzeiro do Sul, a cidade vem melhorando, vem chegando o progresso, pode-se dizer assim, mas também os malefícios, como a entrada da droga", analisa.

Rolim acredita que todos os fatores atrelados acabam resultando em um histórico de muito envolvimento com drogas, álcool e jovens sem perspectivas.

"Temos um presídio (Moacir Prado) feito para comportar 80 presos com mais de 200. Os adolescentes, quando são internados por cometerem alguma infração, são encaminhados para o Instituto Socioeducativo Feijó. As mulheres presas são enviadas para Cruzeiro do Sul e as adolescentes para Rio Branco. Vemos uma marginalidade entre os adolescentes muito grande, grupos já formados. Crimes bárbaros praticado por esses jovens. O coquetel mortal daqui é droga, álcool e arma branca", afirma.

O promotor considera a estrutura de policiais do município precária, tanto da Civil quanto da Militar. Atuando sozinho na comarca, ele diz que tem buscado contato próximo com as duas instituições e vê a necessidade do Ministério Público estar na rua.

"Faltam agentes. Tenho buscado um contato muito próximo a PM e a Polícia Civil. Estou sempre reunindo com os delegados, com o comando da PM visando orientar porque a criminalidade chegou em um nível insuportável", declara Luis Rolim.

Em 2012, foram registrados 19 homicídios em Tarauacá. Na cidade vizinha, Feijó, que tem praticamente o mesmo tamanho, foram cinco, segundo o promotor. Este ano, recentemente, Rolim decidiu levar para a cidade a campanha 'Conte até 10', emplacada pelo Ministério Público.

"Trouxe porque ela tenta evitar aqueles chamados crimes de ímpeto ou de impulso. E os crimes que tiveram esse ano aqui, principalmente os adolescentes estão envolvidos com isso. Estou começando a imaginar medidas para responsabilizar os pais, porque os filhos que reiteradamente estão se envolvendo é sinal de que os pais estão falhando em alguma coisa. A reincidência é muito grande. Muitos já foram internados, duas, três vezes", diz o promotor.

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